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Tsunamis e outras catástrofes
Tem chamado atenção de muita gente a alta incidência de desastres naturais nos últimos tempos. Como não poderia deixar de ser compara-se a frequência dos acontecimentos atuais com outras do passado. Esse tipo de análise tem suscitado questionamentos diversos. Pergunta-se, por exemplo, se tudo o que está acontecendo tem ou não a ver com a ação predatória do homem sobre o planeta. Ou fariam as catástrofes parte de um ciclo natural de um planeta que, afinal, existe há bilhões de anos?
Nunca é demais considerar que as mais antigas rochas encontradas na Terra têm idade avaliada em cerca de 4,6 bilhões de anos. A vida surgiu há pouco mais de 570 milhões de anos e evoluiu lentamente até dar origem às espécies que hoje conhecemos. Já o homem é bem mais recente. Os primatas, ordem à qual pertencem o homem e os macacos, surgiram há 70 milhões de anos. O ancestral comum do homem, do gorila e do chimpanzé apareceu no Mioceno há cerca de 25 milhões de anos. Os primeiros hominídeos a surgirem na Terra datam de entre 3 e 1 milhão de anos atrás. Os primeiros representantes do homem atual apareceram na Terra há 200 mil anos, mas apenas há cerca de 12 mil anos o homem transformou-se num agricultor capaz de obter alimentos, fixar-se em determinadas áreas e, mais tarde, iniciar civilizações.
Toda a cultura de que temos notícia não passa de mais de 6 mil anos antes da época em que vivemos. A admirável civilização grega teve início cerca de 600 anos aC. Finalmente, o início da Era Cristã, marco zero da contagem positiva de séculos até nós, iniciou-se há 2 mil anos.
As datas apontadas anteriormente visam dimensionar o curto período de existência da civilização humana em relação à idade da Terra. Trata-se de muito pouco tempo quando se tem em perspectiva o próprio universo e a grande explosão que, acredita-se, deu origem ao nosso sistema solar. Evidentemente, os dados até aqui apresentados não nos conduzem a respostas sobre o que está acontecendo e mesmo em relação ao destino da espécie humana sobre o qual, aliás, existe muita apreensão. Entretanto, os dados fazem pensar. A civilização é construída de forma a progredir, as conquistas humanas tornam-se patrimônio de gerações subsequentes. A vida tem sentido enquanto fenômeno progressivo de algo que permanece e não necessariamente termina com a morte. A ideia de continuidade de um patrimônio, seja ele qual for, contribui para evitar o aniquilamento do homem que se interroga sobre a sua origem e significado de sua existência. Talvez por isso, acontecimentos colossais e incontroláveis como tsunamis nos afetem tanto. Para além da destruição, das mortes inevitáveis e do desconforto da dor fica a interrogação sobre o futuro do homem na Terra.
Há muitos anos foi enterrado, em um lugar dos Estados Unidos, uma cápsula contendo dados e informações sobre a civilização humana. Lembro-me bem de que a voz da cantora Ella Fitzgerald estava entre os dados representativos incluídos na cápsula do tempo. Creio que foi desde essa época que passei a desconfiar da eternidade. Então apenas um rapazote, obviamente não questionava a duração da vida e não me importavam temas relacionados à existência do sistema solar e da Terra. A notícia sobre uma cápsula que continha informações sobre a civilização humana a vir a ser descoberta, talvez, por outra civilização milhares de anos depois foi muito impactante para mim.
Movimentos de placas tectônicas, tsunamis, desvio do eixo de rotação da Terra, explosões de reatores nucleares são fatos que pertencem ao universo das coisas apocalípticas e fazem temer pelo futuro da vida no planeta.
Fukushima 2011
Notícias vindas do Japão referem-se ao desespero da população de Tóquio, temerosa dos efeitos das radiações emitidas após o vazamento na usina nuclear de Fukushima. O Japão está sob o império de uma enorme catástrofe provocada pelo tsunami que arrasou a região nordeste daquele país na qual também ficam usinas nucleares. É a ocorrência da terceira explosão de um reator em Fukushima a causa do mais que justificado pânico. Temem as pessoas principalmente a ação das radiações gama capazes de alterar células dos organismos vivos, provocando vários tipos de cânceres.
Não é nova a discussão sobre o uso da energia nuclear para fins pacíficos. Sempre em pauta, o risco de acidentes em usinas nucleares contrapõe-se aos benefícios da energia gerada. Há que serem consideradas as crescentes necessidades energéticas determinadas pelo mundo industrializado e o modo de vida das populações humanas que não prescindem da utilização de energia. Em tais condições o uso da energia nuclear parece justificado dado ser uma via extremamente útil para suprir a demanda energética em vários países.
Entretanto, as possibilidades de acidentes não são nada desprezíveis. O mundo - particularmente o Japão – conhece muito bem a dimensão das catástrofes nucleares. As consequências das explosões de bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki são sempre lembradas toda vez que se fala na expansão do uso de energia nuclear. Ao trágico fato ocorrido no Japão, ao final da Segunda Guerra, somam-se acidentes entre os quais se destaca o ocorrido na usina de Chernobyl, na Ucrânia. Ali a demora do governo russo em evacuar a região próxima ao acidente resultou na morte de mais de 7000 pessoas além de um número muito maior de contaminações. Até hoje a usina de Chernobyl emite radiações perigosas, estimando-se que isso continue a ocorrer por mais ainda 100 anos. Estudos publicados por cientistas indicam que, nas próximas gerações, mais de 500 mil de pessoas possam continuar a ser afetadas pelas radiações emitidas em Chernobyl.
Como seria de se esperar as explosões em Fukushima reativam, em todo o mundo, as discussões sobre a construção de usinas nucleares. A Alemanha, a Índia e a Suíça declaram-se dispostas a rever suas políticas para usinas nucleares; num primeiro momento os Estados Unidos e a Rússia declaram não ter intenção de rever ou alterar suas políticas no setor.
No Brasil o prof. José Goldenberg tem sido um ferrenho adversário da construção de usinas nucleares. Em artigo publicado há pouco mais de um mês Goldemberg justamente destacava o perigo de acidentes e acrescentava que um país como o nosso que possui uma enormidade de recursos hídricos ainda inexplorados não precisa apelar para a energia nuclear.
De todo modo o assunto continua em aberto. Entre nós ainda pesam os casos de contaminação ocorridos em Goiânia, em 1987, provocados pelo Césio-137 de um equipamento radioterápico de um hospital, irresponsavelmente abandonado no lixo. Quanto ao caso de Fukushima só resta esperar e torcer. Louve-se a rapidez do governo japonês em evacuar a região, mas, infelizmente, a progressão dos fatos e suas consequências ainda são imprevisíveis.