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O Brasil cresce
Há muitos anos quem ia aos EUA ficava maravilhado com aquele país tal o impacto da riqueza, modo de vida, hábitos e oferta de produtos não encontrados por aqui. Roupas, perfumes, equipamentos de informática e outras coisas faziam parte da bagagem dos viajantes em seu retorno ao Brasil, não raramente gerando problemas alfandegários aos que não declaravam os bens que traziam consigo.
Mas o que chamava muita atenção dos viajantes era a estabilidade dos preços, resultante de uma economia sólida e que ditava as normas da economia do mundo. Comparativamente, vivíamos num período de inflação galopante com as suas inevitáveis consequências, destacando-se o ganho fácil com aplicações (dinheiro fazendo dinheiro), a deterioração dos salários e o empobrecimento progressivo da população.
De lá para cá as coisas mudaram substancialmente. A arrojada política do Plano Real que colocou fim à inflação e estabilizou os preços, permitiu o crescimento sólido da economia brasileira, tendo-se chegado ao tão sonhado patamar em que oferta e procura equilibram-se razoavelmente. Na prática a estabilidade e o crescimento da economia tornaram possível o acesso das classes menos favorecidas a bens de consumo inimagináveis a elas em passado recente.
Dessa enorme abertura resultou uma prosperidade acentuada pelas facilidades do crédito disponibilizado aos cidadãos. Carros e eletrodomésticos, por exemplo, deixaram de ser objeto de consumo das classes médias e alta estendendo-se as suas posses a camadas sociais anteriormente alijadas das possibilidades de adquiri-los.
Interessante termômetro da atual situação econômica hoje é dado pelo movimento dos negócios no setor de viagens e turismo. Tornou-se bastante comum, por exemplo, a utilização de aviões por pessoas que anteriormente no máximo poderiam pagar uma passagem de ônibus. Há casos de viagens de longas distâncias nas quais as ofertas das companhias aéreas tornam os preços dos bilhetes de avião competitivos em relação às passagens de viagens por terra.
Outro setor que tem conhecido crescimento é o dos cruzeiros marítimos. De fato a atual temporada de cruzeiros no Brasil já começa com grande movimento, de modo que o mais seguro é que as reservas sejam feitas com muita antecedência. Viagens mais baratas e planos de pagamento a perder de vista têm possibilitado verdadeira invasão de navios por brasileiros que anteriormente nem poderiam sonhar com tal privilégio.
O país vai bem. Não é demais insistir que a situação atual é obra de muita gente, nascida do esforço comum da população e obra pública de muitas mãos em anos subsequentes. E convém lembrar que a obra não está completa: é mais que hora de investir maciçamente em educação e saúde para que todos os bens ora disponilizados possam ser fruídos integralmente pelos brasileiros.
As férias vem aí
O agente de turismo mostra fotos de lugares distantes, paradisíacos. Indecisos, ficamos entre um destino e muitos outros; quando escolhemos um deles passamos aos hotéis e, de novo, ficamos em dúvida.
Temos poucos dias para sair um pouco, não podemos errar. Ponderamos sobre custos e benefícios afinal quase nunca saímos, então que tal o hotel cinco estrelas, merecemos, não?
Conversamos mais através de olhares que por meio de palavras. Ela quase não contém o seu entusiasmo. Estamos enfim prontos para fechar quando ela decide refletir mais um pouco, talvez descansássemos mais se fôssemos para um desses resorts em praias do nordeste, precisamos de sol e umas caipirinhas para por os nervos em ordem, olhe que o ano foi muito difícil.
O agente interrompe o que está fazendo no computador, cancela o pacote já quase fechado e fica olhando para nós com uma imensa cara de interrogação. Há pessoas esperando lá fora, muita gente viaja nessa época do ano e nós dois aqui embaçando, demorando demais para tomar uma decisão.
Entramos no mundo dos resorts e a primeira coisa que vemos é uma foto de entardecer com uma barraca de praia onde se vendem iguarias e uma moça de maiô que não olho muito porque ela está atenta e sempre diz que privilegio coisas que têm algum erotismo. Depois falamos sobre os hotéis e estamos prontos para optar por um quando o vendedor descobre que as reservas estão esgotadas, nessa época do ano o movimento é grande, os senhores que me desculpem, mas calma, temos outras opções.
Sobre a mesa há uma foto de criança recém-nascida. O agente percebe que estou olhando para a foto e sorri dizendo que é a filha dele, agora com três meses. Ela pergunta ao vendedor se a criança está dando trabalho e ele, muito alegre, diz que se trata do melhor trabalho do mundo, nada paga isso de ter uma criança em casa, ainda mais quando se trata do primeiro filho.
Estou assim, esperando, enquanto ela pergunta sobre outras opções de viagens. O celular vibra no meu bolso e penso que talvez seja alguém precisando de mim, alguém que vai me tirar daqui, dessa imensa indecisão. Enfio a mão no bolso, pego o telefone, mas ele parou de vibrar, talvez nem tenha vibrado de verdade porque o que eu queria é me livrar disso tudo, nem que fosse falando sobre um assunto absurdo com alguém que nem mesmo conheço.
Quase uma hora depois o vendedor mostra sinais de impaciência que depressa evolui para irritação. É quando digo a ela que o melhor é ir para casa, pesquisar na internet, pensar melhor e voltar quando tudo estiver decidido. Ela faz mais algumas perguntas, o agente responde com má vontade e enfim nos levantamos e saímos, indo ao encontro aos olhares furiosos das pessoas que aguardam a sua vez.
Há alguns anos pensamos em fazer uma viagem de férias para conhecer um pouco do mundo fora da cidade em que moramos. O problema é que nunca conseguimos decidir para onde ir, daí que ficamos aqui, trancados em casa, eu assistindo aos programas de televisão, ela lendo revistas de viagens e traçando roteiros que poderemos fazer nas próximas férias.