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Do ano que termina
Você que lê jornais e revistas e é atento a tudo o que se passa no mundo, você pode me dizer o que foi que mais o impressionou neste ano que está terminando? Acha que seria possível um consenso sobre os fatos mais marcantes do ano?
Quando penso em 2009, sinceramente fico confuso. De cara se impõe a crise econômica mundial com todos os seus reflexos. Lembra-se daquela avalanche de análises prevendo o pior? Na mídia escrita e falada apresentavam-se analistas, muitos deles exibindo o aspecto trágico dos que sabem que a derrocada é irreversível e nada se poderá fazer contra o monstro que derruba bolsas de valores e desestabiliza moedas. Enquanto isso, no Brasil, a oficialidade governamental era tomada por um ufanismo sem precedentes, mandando bananas para os organismos econômicos mundiais, dizendo explicitamente que, desta vez, a crise era só deles.
No fim a crise não foi tão profunda, passou meio ao largo do Brasil, daí que tudo continua como dantes no quartel de Abrantes. A meio caminho foram celebradas missas no altar do pré-sal, nova fonte de riquezas prometidas que veio para provar que o Brasil não é grande só em extensão territorial. Em torno disso se fizeram os discursos, sendo acrescentadas mais golfadas de ufanismo no caráter de um povo que historicamente sempre se viu por baixo.
Pois foi essa tentativa de superar a crônica sensação de inferioridade do Brasil em relação aos países mais desenvolvidos o que mais me impressionou em 2009. De repente vieram à tona idéias de grandeza para compensar a passada inferioridade, se é que ele era real. O país foi varrido por uma onda ufanista na qual o sentimento mais comum era o de que vale a pena ser grande ainda que para isso se pague alto preço.
Foi assim quando o país se tornou sede da futura Copa do Mundo de 2014; foi ainda assim quando o Rio de Janeiro foi escolhido para sediar as Olimpíadas de 2016.
Ano quente este, cheio de realizações, contratando-se megaeventos com a certeza de que o país tem potencial para superar todos os obstáculos que a ele se apresentem. Ano de certezas exageradas, de olvido de situações sociais seculares que se arrastam sem solução; ano em que a miséria foi empurrada para baixo do tapete e os dinheiros da República foram comprometidos com obras faraônicas ao invés de serem revertidos para setores carentes como a saúde e a educação; ano de real valorizado, de estabilidade econômica, de maior projeção mundial do Brasil, ano no qual a corrupção mostrou-se a céu aberto sem o menor indício de vergonha de seus praticantes.
2009 chega ao fim com ares festivos. O imediatismo dos brasileiros é característica difícil de ser abandonada. Viver o momento, tirar do instante o máximo que ele puder dar. O resto não importa muito, dá-se um jeito,vê-se depois.
Afinal, amanhã já é outro dia, assim diz a letra do samba.