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O caso do urubu
Os urubus não contam com a simpatia popular. A imagem que temos deles associa-se a mau agouro. Seres expectantes, os urubus empoleiram-se em galhos de árvores e ali ficam com ares soturnos e de poucos amigos. Aparentam grande paciência revelada pelas longas horas de espera da morte de outros seres cuja carne serve a eles como alimento.
Se o assunto é urubu não há como evitar a palavra carniça. De fato, vivem esses seres do consumo de animais mortos, nesse hábito a sua importância ecológica: alimentando-se de carnes em putrefação retiram do ambiente matérias orgânicas em decomposição. Essencialmente carnívoros, raramente consomem presas vivas agonizantes, exceto quando com grande fome. De qualquer modo, valem-se de seus poderosos bicos para abrir o corpo de suas vítimas. É quando os vemos à margem de estradas ou em campos abertos em torno de seres mortos a executar o terrível ofício que lhes coube na cadeia alimentar.
A ligação de urubus com a morte garante a eles posição bastante precisa no universo da literatura de horror. É famoso e monumental o poema “O Corvo”, de Edgar Allan Poe, que mereceu traduções de Machado de Assis e Fernando Pessoa. Inesquecível, na sombria atmosfera do poema, a figura do corvo a sempre dizer: “nunca mais”.
Mas, por que falarmos sobre urubus? Como se sabe, esses animais possuem plumagem negra. Talvez por capricho quis a natureza distinguir uma variante de urubus com plumagem totalmente branca. Pois, um urubu albino foi, dias trás, encontrado por agricultores. Estava a ave debilitada e foi tratada bem pelas pessoas que a encontraram. Aliás, carinhosamente os agricultores deram a ela o nome de Michael.
Michael foi levado para o Parque dos Falcões, localizado na Serra de Itabaiana, a 45 km de Aracaju. Ali ficou por alguns dias, recuperando-se, até ser roubado no último domingo, provavelmente por criadores ilegais de aves de rapina ligados ao tráfico de animais silvestres. Michel está desaparecido, portanto. A Polícia Florestal foi avisada e está no encalço dos ladrões.
Não se sabe se Michael, o urubu, será encontrado. Trata-se de animal raro, pertencente à única espécie de urubus albinos do Brasil, daí o seu valor para os traficantes. De qualquer modo, como acontece em tantas situações, Michael está pagando o preço de ser diferente.
O fato é que a humanidade nem sempre se dá bem com as diferenças.