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Velhice e aposentadoria

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O problema não é “quando vou parar”, mas sim “quando vou poder parar”. A resposta é fácil quando se depende do sistema previdenciário do país: nunca. Claro que esse “nunca” fica na dependência de outros fatores, entre os quais figura, principalmente, o estado de saúde.

Como o mundo é vasto, encontra-se por aí toda sorte de condições e situações. Conheço um sujeito que já passou da idade de parar. Mas, mesmo com a visão afetada ele insiste em continuar. Tem, como todo mundo, as razões dele. Não é só pelo sustento da família, diz ele. Além de ser arrimo o fato é que se viu trabalhando desde que se entendeu por gente. Como agora, da noite para o dia, recolher-se à casa e ficar esperando pelo nada? Pela morte? Aliás, o meu conhecido é o tipo do homem que se parar morre e ele sabe bem disso.

Outro é o caso de um amigo que no auge de seus 80 anos de idade está às voltas com pendências relativas às suas propriedades. O que consome esse homem é a falta de energia, a depressão contra a qual luta bravamente e não consegue se livrar.  Ele reclama da falta de disposição que o prostra, impedindo-o de cumprir compromissos importantes. De modo algum se tem por doente ou quer-se acomodado: trava sozinho uma luta a cada dia mais invencível e teme que só a morte venha a colocar paradeiro a essa situação.

A velhice é tema complexo sobre o qual nem sempre existe concordância dos especialistas. Se deixarmos de lado condições financeiras e de saúde, ainda assim nos depararemos com uma multidão de pessoas idosas insatisfeitas. Dentre as pessoas que conheço é fácil reparar que boa parte não se preparou para a velhice. Recebem o passar do tempo com a surpresa de quem jamais imaginou fosse acontecer a eles. Parecem nunca ter-se pensado velhos e por isso não se conformam.

Tempos atrás fui a um médico que do nada passou a me falar sobre o cunhado dele. O cunhado tem três filhos; o mais velho envolveu-se com drogas; o do meio não se acerta na profissão; a mais nova ainda não completou o curso superior. Conclusão: o cunhado do médico não pode morrer. Então, após me dizer isso o médico perguntou: você pode morrer?

Que pergunta! Se posso morrer agora? Ora, não poderei morrer nunca. Afinal, como ficarão os filhos, aquela propriedade, enfim… Pois é esse apego à vida que torna a velhice um incômodo. Ao nos condicionar asituação na qual nem sempre somos donos de nós mesmos impõe-se um tipo de restrição que se apresenta como intolerável. Entretanto, isso não representa que a velhice seja um fardo mais pesado do que realmente é. Serenidade, aceitação e preparo podem tornar bem razoável a última quadra da vida.

Quando respondi ao médico que não poderia morrer agora ele me apontou o dedo e disse:

-  Então, daqui pra frente você vai se cuidar. Vai seguir direitinho tudo o que eu determinar.

- Sim senhor - foi tudo o que me ocorreu dizer.

Velhice e aposentadoria

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Por ocasião da realização da última Bienal do Livro, em São Paulo, uma conhecida escritora declarou que a velhice é um horror e acrescentou: eu era tão bonita…

O tempo passa, o tempo voa e a poupança… quase sempre diminui. Num país tropical onde a juventude é muito valorizada as oportunidades no mercado de trabalho encolhem na medida em que se envelhece. O grande problema a enfrentar é a manutenção do padrão de vida a partir do instante em que o envelhecimento reduz ou impede a continuidade do trabalho.

A situação da velhice é complexa em todo o mundo. Agora mesmo assiste-se ao braço de ferro entre o presidente Nicolas Sarkozy e a sociedade francesa. A intenção do governo francês é a de elevar, de 60 para 62 anos, a idade para aposentadoria, medida essa já aprovada pelo parlamento. No Japão pretende-se elevar a idade de aposentadoria de 60 para 65 anos. O significado óbvio dessas medidas é a redução dos gastos do Estado com aposentados.

Enquanto isso, no Brasil, verifica-se aumento da expectativa média de vida. Segundo o IBGE a expectativa de vida no país chegou a 73,1 anos em 2009. Em contrapartida o INSS – órgão que paga as aposentadorias – vem apresentando rombos milionários, devendo chegar a cerca de 45 milhões ao final de 2010.

É nessa hora que se faz necessária muita cautela e a adoção de políticas responsáveis em relação ao problema. Agora mesmo, em plena campanha eleitoral, promete-se um reajuste de 10% para os aposentados. É verdade que a medida é mais que justa, mas como evitar o aumento do rombo?

Há cerca de quinze anos assisti a palestra de um economista que participara de fórum mundial de economia na Europa. Na ocasião ele relatava que o grande tema do fórum fora o envelhecimento da população mundial, havendo preocupação de muitos países que, assim se acreditava, chegariam a uma situação insustentável em algumas décadas. Não se chegou a isso ainda, mas o problema é crescente e de fato muito preocupante dado que a sempre benvinda melhoria da qualidade de vida contribui diretamente para elevação da expectativa de vida.

No Brasil não se pode dizer que tenha existido, até agora, um sistema previdenciário, estatal ou particular, que dê conta do recado. Os mais velhos hão de se lembrar de que há alguns anos surgiram por aí uns montepios que pareciam muito confiáveis. Muita gente aderiu aos montepios que prometiam, após pagamento de mensalidades durante alguns anos, retribuição posterior sob a forma de aposentadoria até a morte do segurado. Como em geral acontece as pessoas entravam no sistema de montepios confiando e sem se dar ao trabalho de fazer direito as contas. Caso fizessem teriam notado que, apesar de toda a manipulação de números apresentada pelos vendedores de montepios, o processo todo seria inexequível. O fato é que os montepios quebraram e o dinheiro despareceu; os segurados que confiavam numa aposentadoria tranquila anos mais tarde, obviamente ficaram a ver navios.

O que tenho ouvido em relação à velhice é muita reclamação. Indisposições frequentes e dores fazem parte do discurso de pessoas idosas, tantas vezes saudosas de seus períodos de força e virilidade. Nos de idade mais avançada percebe-se algum temor, nem sempre da morte em si, mas do modo como a temerária chegará, com ou sem sofrimento.

O pior fica por conta do tratamento que se dá aos idosos. Começa pela linguagem que se usa em relação a eles sobre a qual existem muitas reclamações. Alguns idosos simplesmente abominam essa história de “terceira idade”.  O cidadão está na fila para embarque no aeroporto e aí aparece aquela mocinha com cara de não se sabe o quê, dizendo que o embarque será preferencial para pessoas da “melhor idade” etc. Há quem deteste esse tipo de tratamento. E que dizer dos planos de saúde pagos durante muitos anos, quase sempre sem serem usados, que sofrem reajustes muito altos na velhice, justamente quando mais se pode precisar deles? Pela lógica de que mais risco custa mais não passam os muitos anos pagos e sem utilização?

E por aí vai.