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Ao meu amigo
Por acaso revi um amigo a quem estimo muito. Falava ele sobre a imigração italiana na cidade de São Paulo. A fala fora inserida em meio a um noticiário da TV Globo News. Revi, portanto, o meu amigo num programa de televisão e me perguntei por que raios não nos temos falado há tanto tempo.
Tínhamos o costume de almoçar juntos cerca de quatro vezes ao ano. Como sempre o almoço era marcado para o centro de São Paulo, o velho centro de que gostamos tanto.
“Centros velhos de cidades, ainda que decadentes, preservam a fisionomia do passado. Existe um enigma, espécie de auréolas, em torno dos antigos prédios, as quais de um momento para outro podem ressuscitar atmosferas de outros tempos em toda a sua plenitude. De fato, não é impossível que de repente as ruas centrais cedam lugar à passagem de antigas gerações de pessoas que pisaram no mesmo solo no qual hoje seguimos. Nada morre de verdade nos velhos centros das cidades.”
Depois que revi o meu amigo na TV perguntei-me por que não nos temos falado, justamente nós a quem nunca falta assunto dado que nossas conversas sempre foram intermináveis. Mas se me basta apenas pegar o telefone, discar um número e eis que do outro lado soará a inconfundível voz do amigo…
Atribuo a culpa da minha ausência ao tempo que passa. Na complexa travessia de nossas vidas nesse louco mundo aos poucos nos descobrimos avarentos em relação às palavras. Há quem diga que a transição para o silêncio começa devagar e prossegue lenta e perigosamente. De todo modo aprende-se a não dizer, a evitar comentários que antes faríamos apenas pelo gosto de jogar conversa fora. Talvez por isso eu tenha me afastado de tanta gente de quem tenho saudades.
Escrevo com a pretensão de que o meu amigo algum dia leia esse texto. Tenho a certeza de que ele entenderá as razões da minha prolongada ausência, até porque, se bem o conheço, acontece a ele agora o mesmo que se passa comigo.