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Viagem à Lua
Leio que, ainda hoje, 26% dos brasileiros não acreditam que o homem tenha estado na Lua. Armação dos americanos. Filme, nada mais que isso. Acontece no momento em que justamente se comemora a chegada do homem ao satélite. Há 50 anos, no dia de hoje, partia a nave Apolo na missão que levaria o homem a pisar no solo da Lua.
A história dessa façanha todo mundo conhece. Kennedy prometera que os americanos seriam os primeiros. Venceriam os russos na corrida espacial. De fato, venceram. Quando Neil Armstrong desceu da nave e tornou-se o primeiro homem a pisar no solo do satélite os americanos comemoram o grande feito da sua gente.
Hoje fala-se numa viagem de retorno. Querem alcançar o outro lado da Lua. Mas, a grande meta é Marte. Pelo jeito que as coisas seguem não demorará para que essa aventura venha a acontecer. O desafio faz parte da natureza do homem. Vencer barreiras. Olhar-nos de longe. Chegar a um lugar onde nunca antes. Marte é a meta.
Entretanto, por aqui as coisas seguem um tanto malparadas. Os homens não se entendem. De nada parecem servir as terríveis experiências de duas guerras mundiais. O mesmo homem que avança no espaço é o que se envolve em disputas que, com frequência, terminam em grande mortandade. Vidas perdidas, inutilmente.
De que temos noção sobre a pequenez de nosso planeta diante da imensidão do universo não restam dúvidas. Mas, raramente levamos esse fato em conta. Assistimos a filmes sobre impactos inevitáveis que destroem a Terra, mas nem de longe imaginamos que isso venha a acontecer. Atribuímos à Terra uma solidez que ela, na verdade, não desfruta.
O filme “Impacto Profundo”, de 1998, torna real a possibilidade de que a civilização humana possa chegar ao fim. Descobre-se a trajetória de um cometa em rota de colisão com a Terra. Interessante acompanhar o comportamento dos homens durante a espera da grande catástrofe. Desespero diante do inevitável.
Espera-se a existência de água em Marte. Caso seja encontrada haverá possibilidade de maior tempo de permanência por lá. Enquanto nenhuma viagem tripulada chega ao planeta vermelho fica-se com as aventuras de Flash Gordon no planeta Mongo. Elas nos permitiam, nos anos cinquenta do século passado, imaginar como seria a recepção aos terráqueos longe da nossa Terra.
Na ficção Marte é tido como planeta onde existe civilização avançada. Não é o que nos trazem as imagens obtidas através de sondas que percorrem grandes distâncias para aproximar-se do planeta vermelho. Há poucos dias uma sonda da NASA detectou uma enorme cratera no solo marciano. A fotografia foi tirada a uma distância de 255 km do planeta.
Já a sonda InSight está em Marte desde o final do ano passado. Caso alguém tenha interesse em ver as impressionantes fotografias obtidas através da sonda basta procura-las no Google. Entretanto, afora poeira e pedras não há sinais aparentes de vida em Marte.
Ritos de passagem
Fico meio em dúvida com o título acima. Afinal ritos de passagem referem-se a momentos de grande importância na vida das pessoas. Para o meu tema melhor seria talvez falar em algo mais indefinido, mas ligado à idéia de atravessar grandes obstáculos. Assim me parece porque sempre compreendi certos momentos mais como uma travessia de fronteiras consideradas inatingíveis para um homem que, de repente, são vencidas.
Pode parecer estranho, mas a vitória de Muhamed Ali sobre George Foreman no célebre combate realizado no Zaire, em 1974, ficou para mim como um desses momentos em que um homem liberta-se de todas as amarras e nada pode segurá-lo. Foreman era fortíssimo e 25 anos mais novo que Ali. Quase dava pena ver Ali sentado nas cordas, apanhando daquele jeito. Até que no oitavo round Ali saiu das cordas e nocauteou Foreman. É difícil descrever o que se passou em seguida. Na época eu morava num pequeno apartamento em São Paulo. Assim que Foreman caiu, saí da frente da televisão preto-e-branco e corri até a janela. Eram duas horas da manhã e vi inúmeras outras janelas abertas com pessoas gritando, como se elas tivessem vencido um enorme obstáculo. Ali tinha “atravessado” e muita gente com ele..
Não restam dúvidas de que a maior travessia que presenciei foi aquela na qual os astronautas da Appolo-11 pisaram em solo lunar. Eu estava numa pequena cidade do interior e vi as imagens pela televisão justamente no momento em que Neil Armstrong imprimiu a marca de seu calçado no solo lunar. Não me lembro bem de todas as pessoas que estavam comigo naquele instante, mas vi gente chorando. Um senhor, ex-feitor de fazendas de eucalipto no Vale do Paraíba lá pelos anos 30, negou-se a acreditar e disse bem alto que aquilo era coisa do cinema norte-americano. Aliás, esse senhor que veio a morrer antes dos anos 70 não chegou a compreender as radicais mudanças do mundo ocorridas durante os últimos anos de sua vida. Quando seu ex-patrão ou algum dos seus descendentes vendeu o prédio que era a sede do império Matarazzo, o então velhinho chorou na minha frente o fim de uma era de ouro da qual fizera parte como obscuro coadjuvante.
Quanto a mim, ainda me emociono um pouco com essa história toda de conquista da Lua. Não me importa que naquela época os EUA estivessem travando uma corrida espacial com a antiga União Soviética, nem aquela lengalenga a respeito de derrotar o comunismo. Ficou que um homem, um de nós, atravessara o espaço impossível. Isso era e continua sendo muito, ainda agora quando se comemoram os 40 anos anos desde aquele 20 de julho de 1969 em que astronautas chegaram ao satélite que embeleza as nossas noites.
Talvez atualmente o feito não pareça nem um pouco espetacular; ainda assim, considero o episódio de 1964 como um rito de passagem da espécie humana.