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Rio de Janeiro
No Uber pergunto ao motorista se conhece a cidade onde estamos. Ele conhece, mas não sabe onde fica a rua onde moro. Vai usar o GPS, mas digo que não será necessário, mostrarei o caminho.
O rapaz é do Rio, Tijuca. Parentes dele ainda moram lá. Aqui ele tem uma namorada que dizia odiar o Rio. Num fim de semana ele levou a moça para conhecer o Rio. Caprichou, mostrando a ela os melhores pontos turísticos. A namorada voltou apaixonada pela antiga capital federal.
- Não mostrei a ela os lugares onde a regra é a violência. Agora não são só as facções, existem as milícias. E balas perdidas, crimes de toda ordem.
Digo a ele que sempre amei o Rio. Quando jovem viajava no trem noturno que fazia o percurso entre São Paulo e Rio. Embarcava no trem, à meia-noite, quando passava pela estação ferroviária de Taubaté. Com um nada de dinheiro no bolso o jeito era viajar na segunda classe. Assentos duros de madeira que para o corpo jovem pouco importavam. Em Lorena o trem deixava os trilhos principais e parava na lateral. Ficávamos ali cerca de duas horas, esperando pelo Trem de Aço, primeira classe com restaurante e tudo, que vinha em sentido contrário, rumo a São Paulo.
De manhã desembarcava na Estação D. Pedro II. Estava no Rio. Maravilha. Uma cochilada no banco da estação, depois as ruas. Catete, Cinelândia, o Ouvidor, o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, o mar que vi pela primeira vez aos 18 anos. A barca para Niterói. O Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista. Tudo e mais um pouco.
À noite bater pernas na Cinelândia. Passar pelos teatros de revista onde atuavam futuras celebridades televisivas. Contar no bolso as merrecas de notas para a entrada nos teatros. Numa dessas acabei assistindo à primeira encenação de “O Rei da Vela”, obra de Oswald de Andrade. Comendo pouco, dormindo mal, era feliz porque a cidade maravilhosa sorria para mim.
Meu Deus, no que se transformou o Rio? Que história é essa de violência escancarada, partes da cidade onde a polícia não entra, crime organizado e milícias no comando?
Terá o Rio morrido? Não conseguirão os homens devolver à cidade a segurança de que os cariocas tanto anseiam? Poderei ainda uma vez visitar o Rio e andar por lá, livremente, sem medo?
Mas, que não se perca a esperança. Um dia a beleza vencerá. O Rio é belo demais para sucumbir nas mãos de traficantes.