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Cadela Baleada
Outro dia discuti com um amigo dizendo que algumas expressões muito usadas deveriam ser revistas dado seus significados mudarem com o tempo. No geral eu e ele concordamos com a maioria das expressões e ditados populares , embora eu apontasse algum mau-gosto na utilização de coisas tão batidas. Se você não concorda comigo, aí vai uma listinha: “Cão que late, não morde;”O mar sempre vem buscar o que é seu”; “Dois bicudos não se beijam”; “Em rio que tem piranha jacaré nada de costas”; “Nada como um dia após o outro”;”Antes um pássaro na mão do que dois voando”; Quem não tem cão caça com gato”; “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”;”Devagar se vai ao longe”; “Casa de ferreiro, espeto de pau”;”Quem ri por ultimo ri melhor”; “Quem sai na chuva é pra se molhar”; “Cavalo dado não se olham os dentes”; “De grão em grão a galinha enche o papo”;”Deus escreve certo em linhas tortas”, e muitas outras.
No que nossas opiniões diferiram foi em relação à expressão “vida de cão”. Defendi que, nos dias atuais, vida de cão é o “the best”. Mais que nunca o mundo está para os cães que suprem lacunas afetivas e emocionais na vida das pessoas e, por assim dizer, levam um vidão: alimentos de primeira ordem, banhos em pet shops, roupas especiais, cuidados de veterinários etc. De nada adiantou a argumentação do meu amigo afirmando que nem todos são cachorros de madame; existisssem estatísticas confiáveis verificaríamos que entre os cães reina desigualdade social talvez maior que a observada entre os seres humanos. Que eu pensasse nos sofridos cães sem dono que circulam por aí, esquivando-se do terrível destino a eles reservados pelas carrocinhas.
Não chegamos a um acordo, embora o arrazoado do meu amigo fosse bastante convincente. Agora leio sobre a Cadela Pituca que passa os seus dias na penitenciária de São Pedro de Alcântara, grande Florianópolis. Pituca é cuidada por funcionários do presídio e ocorreu que ela tornou-se alvo de atiradores, vindo a ser ferida. Pobre Pituca: passou a noite inteira agonizando até receber, na manhã seguinte, os cuidados de um veterinário. A foto dela ao lado do veterinário mostra um cãozinho vira-lata com cara triste e corpo enfaixado. Está bem, vai sobreviver, mas aparenta sofrer com a dor.
Tenho que concordar que isso sim é que é vida de cão, daí me render à argumentação do meu amigo quanto à validade do uso da expressão. É o que estou fazendo agora. Faço-o via blog que ele há de ler a distância, livrando-me assim de alguns comentários mais jocosos.
Quanto à Pituca o melhor seria que fosse viver noutro lugar, talvez em casa de família de algum funcionário bondoso que já a conhece. Caso isso não aconteça e se você estiver pensando em adotar um canídeo, a Pituca é uma ótima opção: é sofrida, conhece bem a maldade do mundo e certamente vai encarar a nova situação com a humildade daqueles que sabem quanto custa a verdadeira felicidade.