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Presságios e Literatura Fantástica
Você acredita em presságios? Sabe, trata-se daquela percepção especial que algumas pessoas dizem ter em relação a fatos por ocorrer. Acontece que, em alguns casos, os presságios se confirmam. Coincidência? Você aí é quem sabe, quem sou eu primo para dar opinião.
Veja que estamos a falar sobre presságios e não vidência. Vidência é assunto de videntes, pessoas especializadas em prever o futuro. Não que os videntes não sejam suscetíveis a presságios. Consta que eles podem captar mais agudamente as probabilidades de acontecimentos futuros. Mas, no geral, os videntes são mesmo aqueles que utilizam a quiromancia, jogam cartas, búzios ou fazem uso de outras parafernálias para prever o futuro das pessoas que os procuram.
A esse ponto – e apenas como simples citação – torna-se impossível olvidar os videntes que aliam aos seus dotes sensitivos a prática de sincretismos religiosos, em geral ritos africanos plasmados ao catolicismo. O candomblé a macumba fazem parte do arsenal disponível a essa categoria de videntes que, quase sempre, emendam a constatação dos problemas pessoais dos seus clientes à necessidade de um “trabalho” dirigido a um orixá específico. E assim por diante.
Pois eu cresci num mundo de sinais. Até hoje não sei dizer se os sinais aos quais as pessoas próximas a mim atribuíam acontecimentos futuros, tinham ou não ligação com eles. Lâmpadas que se acendiam de repente durante as madrugadas, pios estranhos de aves, raios caindo no quintal de casa e uma infinidade de pequenas ocorrências não rotineiras adquiriam significados lógicos. Muitos desses sinais tinham longa história através das gerações familiares, mantendo os seus significados. A pesquisa desse assunto junto a pessoas idosas certamente nos traria um mundo anterior e muito próximo a nós, no qual o fantástico incorporara-se à rotina. Infelizmente o progresso e os avanços da tecnologia têm feito sepultar as raízes do fantástico em nossa sociedade, daí talvez a progressiva redução de escritores, teatrólogos e cineastas que se ocupem do gênero.
O que pretendo dizer é que um livro como o “Pedro Páramo” do escritor mexicano Juan Rulfo só pode ser oriundo de uma tradição cultural na qual o fantástico seja, ou tenha sido, parte integrante do cotidiano das gentes. Aliás, nesse sentido, os países de língua espanhola são muito pródigos em incursões no terreno do insólito. Creio que os filmes de Pedro Almodóvar sejam mais que suficientes para exemplificar o que acabo de dizer. E que dizer dos livros de Gabriel Garcia Marques?
Por fim escrevi isso para confessar que, graças aos céus, sou um péssimo pressagista, se é que existe o termo. O fato é que sou dado a sonhos etc, que felizmente não se concretizam na realidade. Nisso saí errado em reação ás minhas herdades: vários membros da minha família, em geral mulheres, eram dados a presságios muitas vezes confirmados. Sempre tive isso como simples coincidência, mas quem sabe, não?