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Violência no futebol
Está dando o que falar a violência no futebol. A morte de um menino de 14 anos, atingido por sinalizador durante jogo na Bolívia ainda impressiona. Torcedores corintianos estão presos naquele país, acusados de provocar ou participar do infausto acontecimento. Um rapaz de 17 anos, menor de idade, apresentou-se à polícia brasileira declarando-se culpado. Entretando, supeita-se que ele esteja mentindo para salvar a pele da turma presa na Bolivia. Como se vê as coisas estão mal paradas e indefinidas.
Era de se esperar que a morte do menino contribuisse para a reflexão dos torcedores acerca da prática de atos violentos que nada tem a ver como o futebol. Entretanto, o que se tem visto é a continuidade da violência: brigas entre torcidas em jogo pela Libertadores na Argentina, novos lançamentos de sinalizadores etc.
A Comebol puniu o Corinthians com a proibição da presença de torcedores em jogos de mando do time. Na quarta-feira o Corinthians jogou no Pacaembu sem torcedores. Entretanto, quatro torcedores assistiram ao jogo dado terem conseguido uma liminar na Justiça. Pelo que não estão sendo perdoados por parte dos comentaristas que não os tem poupado. E o Corinthians se apressa a explicar para a Comebol dizendo não ter desrespeitado a punição dado que nada pode fazer em relação aos quatro torcedores por tratar-se de liminar.
Tudo o que está escrito acima é de conhecimento geral. Nenhuma novidade, portanto. Mas, não há como não ver nesse arrazoado algo que sugere que os tempos são outros e o modo de agir das pessoas difere substancialmente do passado. O amor pelo time pelo qual se torce na verdade simula uma paixao doentia, inexplicavel.
Desse assunto restam perguntas inquietantes. Uma dela é sobre o porquê de pessoas se comportarem tão mal após fazerem uma longa viagem internacional com a única finalidade de ver jogar o time do coração. O que as move? Afinal, o que se passa nas cabecas dessa turma
Violência pela violência
Você viu as imagens de brigas e desordem nas imediações do estádio do Pacaembu após o final do jogo entre o Corinthians e o Flamengo?
Dentro do estádio correu tudo bem. Mas, a derrota do Corinthians irritou parte dos torcedores que saíram preparados para arranjar encrenca. Confusão armada, torcedores do mesmo time brigaram entre si e atacaram a polícia, atirando pedras. Em resposta vieram as bombas de efeito moral que emprestaram colorido próprio às lamentáveis cenas.
O triste foi constatar as reações de parte do público que, a todo custo, procurava safar-se da arena de luta. Pais carregando crianças chorosas no colo, senhoras assustadas, enfim torcedores pacíficos a quem é roubado o direito de frequentar estádios de futebol sem colocar em risco a si próprios e suas famílias.
Mas o que impressiona mesmo é a prática da violência pela violência. Percebe-se que acontecimentos como os de ontem nada têm de ocasional. Trata-se de pessoas que encontram prazer na prática de atos violentos e buscam o confronto, talvez como forma de realização pessoal. Parece existir nessas pessoas a necessidade imperiosa de extravasar energias negativas, daí entregarem-se a situações de alto risco com as quais, aliás, não se incomodam. A impressão que temos é que para os homens em luta não existe amanhã, nem contam as possíveis consequências. Mesmo a morte será um acidente de percurso, talvez de glorificação. É por essa razão que as áreas externas dos estádios de futebol tantas vezes assumem o papel de arenas onde feras medem forças, apenas por medir. Contribuem para a afirmação anterior as notícias de torcidas contrárias que marcam brigas pela internet. Não se trata dos jovens desajustados, contrários às normas da sociedade, verdadeiros desertores sociais como aqueles dos filmes sobre a juventude do pós-guerra, tão bem representada nos personagens vividos por James Dean. Aqui as coisas se direcionam mais para o espírito dos homens que se reúnem para medir forças e exercitar a violência, como se viu no filme “Clube da Luta”.
Os distúrbios da noite de ontem tiveram o final de sempre: uma centena de corintianos foi parar numa delegacia, após brigas, destruição de vitrines de lojas etc.; um ônibus com torcedores do Flamengo foi parado e nele foram encontradas armas, pedras, porretes e outros materiais bélicos. Por essa razão, também esses foram parar num Distrito Policial.
No fim todos voltaram para as suas casas. Muito em breve nós poderemos vê-los, mais uma vez, em ação. Não importa se o time para o qual torcem venha a ganhar o perder o seu próximo jogo. O que vale é a discórdia, a sede de luta, a paixão pelo quebra-quebra, o desafio à polícia, talvez a busca de uma forma de heroísmo cujo significado nos escapa.